Existem momentos em que gostaríamos muito de ajudar quem amamos muito, mas não podemos fazer nada. Ou as circunstâncias não permitem que nos aproximemos, ou a pessoa está fechada para qualquer gesto de solidariedade e apoio. Então, resta-nos apenas o amor.
Nos momentos em que tudo é inútil, ainda podemos amar - sem esperar recompensas, mudanças, agradecimentos. Se conseguirmos agir desta maneira, a energia do amor começa a transformar o universo à nossa volta. Quando esta energia aparece, consegue sempre realizar o seu trabalho. O amor transforma, o amor cura. Que sentimento complexo é este? Seria uma irresponsabilidade tentar defini-lo, porque, como todo o resto dos seres humanos, eu apenas consigo senti-lo.
Milhares de livros são escritos, peças teatrais encenadas, filmes produzidos, poesias criadas, esculturas talhadas na madeira ou no mármore, e mesmo assim, tudo que o artista pode passar é a ideia de um sentimento - não o sentimento em si. Mas eu aprendi que este sentimento está presente nas pequenas coisas, e se manifesta na mais insignificante das atitudes que tomamos, portanto é preciso ter o amor sempre em mente, quando agimos ou quando deixamos de agir.
Pegar o telefone e dizer a palavra de carinho que adiamos. Abrir a porta e deixar entrar quem precisa de nossa ajuda. Tomar a decisão que estávamos deixando para depois. Pedir perdão por um erro que cometemos e que não nos deixa em paz. Pôr a música bem alta quando a pessoa amada estiver longe, baixar o volume quando ela estiver perto. Saber dizer "sim" e "não", porque o amor lida com todas as energias do homem. Descobrir um desporto que possa ser praticado a dois.
Não seguir nenhuma receita, nem mesmo as que estão neste parágrafo - porque o amor precisa de criatividade. E quando nada disso for possível, quando o que resta é apenas a solidão, então lembrar-se de uma história que um leitor me enviou certa vez: "Uma rosa sonhava dia a noite com a companhia das abelhas, mas nenhuma vinha pousar em suas pétalas. A flor, entretanto, continuava a sonhar: durante suas longas noites, imaginava um céu onde voavam muitas abelhas, que vinham carinhosamente beijá-la.
Desta maneira, conseguia resistir até ao dia seguinte, quando tornava a abrir-se com a luz do sol. Certa noite, conhecendo a solidão da rosa, a lua perguntou:- Você não está cansada de esperar?- Talvez. Mas preciso continuar lutando.- Porquê?- Porque, se eu não me abrir, eu murcho."
Nos momentos onde a solidão parece esmagar toda a beleza, a única maneira de resistir é continuarmos abertos.
Paulo Coelho
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